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Presidente angolano faz amizade com o lobista Elliott Broidy ao visitar sua residência nos EUA (De Flávia Lima)

Broidy trabalhou como angariador de fundos para a campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Nós podemos certamente cumprir este mês com base no próximo acordo com a BCH e recolha imediata de saldo

LUANDA, Angola, 20 de dezembro 2018/APO Group/ --

De Flávia Lima

Elliot Broidy, lobista e ex-presidente das Finanças do Comitê Nacional Republicano, e Angariador de fundos para a campanha presidencial de Donald Trumpo, esteve envolvido num escândalo quando os seus e-mails foram hackeados em 2016. Em conformidade com os emails Broidy tentou usar os contatos do Partido Republicano norte-americano para assumir o controle de bilhões de dólares em petróleo e gás em Angola. Os mesmos e-mails mostram o envolvimento com o então ministro da Defesa de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço – hoje presidente do país – e o diretor de Inteligência Externa André de Oliveira João Sango. Broidy trabalhou como angariador de fundos para a campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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Em 2016, Lisa Korbatov, corretora de imóveis conectou Broidy a um banqueiro nigeriano, Dolapo Asiru. Em 2006 Asiru, através de ligações com o governo do Gabão esteve envolvido em negócios com Broidy. O lobista foi acusado de ter distribuído 1 milhão de dólares em doações ilegais para funcionários do estado de Nova York, para que eles investissem 250 milhões do fundo de pensão do Estado na empresa de investimentos de Broidy.

Lisa Korbatov e o seu marido, Igor Korbatov, conheceram Asiru em 2007, quando um consórcio controlado pelos seus pais adquiriu uma mansão de Beverly Hills da família de Omar Bongo, o ditador do Gabão. Asiru era então o "membro gestor" da sociedade que oficialmente possuía a propriedade para a família Bongo. Em 7 de dezembro de 2016, Broidy, Asiru e Lisa Korbatov assinaram um memorando de acordo relacionado a um empreendimento conjunto, BCH Development Group.

Em virtude desse acordo, Asiru e Broidy estavam a trabalhar pelo menos em dois empreendimentos diferentes em Angola. Em 2016, os e-mails hackeados mostram que os dois concluíram um acordo sob o qual a Circinus estabeleceria e operaria o "Centro de Inteligência Open Source" para o governo angolano. Grande parte dos processos para esse projeto foi tratada pelos executivos da Circinus. O contrato valeu US$ 12 milhões.

Broidy e Asiru fizeram um acordo com o Grupo Simples, uma empresa de serviços de petróleo com sede em Angola, que em 2015 receberia concessões de petróleo da estatal de Angola. Num email enviado para Broidy, Asiry destacou que o empreendimento revelava que os angolanos “assinaram um contrato de bilhões de dólares em petróleo e gás e ativos de mineração” para a BCH Development, a empresa formada com o acordo entre Broidy, Asiru e Korbatov.

“Acordo-Quadro entre o BCH Development Group e o Grupo Simples” titulo de um e-mail de Asiru para  Broidy onde Asiru incluiu uma nota de Alberto Mendes, chefe da empresa angolana, a solicitar que Asiru lhe enviasse, com urgência, informações sobre o BCH Development. Enquanto focados com os angolanos no acordo de petróleo e na Central de Inteligência, Broidy usou a sua influencia perante o Partido Republicano a fim de obter convites para dois funcionários angolanos, que seriam o então ministro da Defesa, João Manuel Gonçalves Lourenço, e o diretor de Inteligência Externa, André de Oliveira João Sango para a posse de Donald Trump. Em 2017, num envelope com papel timbrado do BCH Development Group, além dos convites para Sango e Joao Lourenço para a posse de Donald Trump também continha uma cópia do contrato para o projeto Circinus em Angola. O prazo para devolver o documento era de seis dias.

Laços com Africa envolvem milhões de dólares

Joao Lourenço e Sango aceitaram o convite, e enquanto presentes em Washington para a posse do novo presidente Donald Trump, Broidy, organizou um encontro com os congressistas republicanos, incluindo os senadores Tom Cotton, do Arkansas, e Ron Johnson, de Wisconsin. As reuniões foram organizadas pelo empresário Aryeh Lightstone conselheiro sênior do embaixador David Friedman em Israel. Este mesmo que possuía uma participação na empresa Threat Deterrence Capital LLC pertencente a Broidy. Lightstone foi informado por assessores que os encontros incluiriam Broidy, Asiru, Joao Lourenço e Sango, além de Alberto Mendes, do Grupo Simples, e Mario Gomes, outro executivo da empresa.

No início de janeiro Broidy recebeu o primeiro pagamento de Angola pelo projeto do Centro de Inteligência, no valor de 6 milhões de dólares. Porém, o acordo com o governo angolano era de 8 milhões de dólares. Broidy aceitou parte do pagamento, mas pediu que Angola pagasse o restante da taxa no valor de US$ 12 milhões em 180 dias. De acordo com os e-mails hackeados, Broidy passou os próximos meses a pressionar o governo de Angola para pagar.

Alan Blaine Stone, O Fundador e CEO da Circinus, enviou um e-mail a Broidy a dizer que precisava de um contrato assinado, relacionado com o projeto empresarial em Angola: “Precisamos de algo assinado pelos angolanos, mesmo que apenas diga que estamos ‘a prestar serviços de consultadoria e aconselhamento’ com o governo dos Estados Unidos. Algo que possa colocar nos registos a fim de mostrar que estamos no contrato para justificar o influxo de fundos”, dizia o e-mail. Depois disso, Broidy pediu a Asiru que lhe enviasse o contrato assinado para os arquivos da empresa.

Fran Moore, uma ex-funcionária da CIA que era membro da diretoria da Threat Deterrence Capital, empresa de Broidy, enviou um e-mail para o lobista com a observacao que ela queria "fortalecer" uma proposta relacionada com Angola. Este projeto visava diminuir o “alto nível de corrupção” em Angola, e criar uma “melhor atmosfera de investimento”. A informação foi confirmada por Juan Zarate, ex-vice-conselheiro de Segurança Nacional na Casa Branca no governo de George W. Bush - Dick Cheney, e agora presidente da Financial Integrity Network, uma empresa de consultoria especializada em combater a lavagem de dinheiro. Segundo Zarate, Broidy sabia dos seus interesses em desenvolver negócios em África. Numa mensagem, Zarate classificou o investimento como “um projeto ambicioso e importante para os angolanos (e para nós)”.

Ao tentar estreitar laços com Angola, Broidy Como Broidy utilizou os seus contatos políticos para aproximar o então ministro da Defesa, João Manuel Lourenço, com a Casa Branca de Donald Trump. Em 27 de fevereiro de 2017, um email enviado por Broidy para Asiru sobre o projeto anticorrupção, relatou: “Eu estarei na reunião da Casa Branca com o vice-presidente Mike Pence e o (então) chefe de gabinete Reince Priebus. Posso começar a preparar uma reunião para o ministro da Defesa”.

A fim de receber o restante da quantia que acreditava que tinha direito Broidy pensou em agendar uma reunião entre o presidente Donald Trump e João Manuel Lourenço. Numa mensagem para o então ministro da Defesa de Angola, Broidy escreveu: “Nós podemos certamente cumprir este mês com base no próximo acordo com a BCH e recolha imediata de saldo”. O recado era claro: Se Angola pagasse o que Broidy acreditava que devia e avançasse com um novo projeto, usaria o seu poder político para marcar um encontro privado entre os funcionários de Joao Lourenço e Donald Trump.

No mesmo email, Broidy também se referiu a uma conversa que teve com Sango, o chefe da Inteligência angolana, semanas antes num restaurante em Washington, DC. “Sango olhou-me nos olhos e prometeu que os fundos seriam enviados no início de fevereiro; eu pedi o pagamento de janeiro. Este tratamento é inaceitável e o pagamento precisa ser feito agora.” Dias depois, Broidy escreveu diretamente para  Joao Lourenço e perguntou se ele estaria “presente conosco para os eventos em Miro Largo”. Ele disse ao ministro da Defesa angolano: “Muitos preparativos foram feitos antes da sua visita, incluindo reuniões adicionais no Capitólio e no Departamento do Tesouro”. Acrescentou, ainda, que Sango “prometeu-me que o saldo do pagamento devido seria recebido no início de fevereiro ”. Na ocasião, pediu que Lourenço enviasse o dinheiro imediatamente.

Após investigação, os e-mails hackeados não revelam o que os angolanos responderam. No entanto, o plano anticorrupção fracassou. Os advogados de Elliott Broidy afirmam que o seu cliente não discutiu nenhum projeto de Angola com Trump ou com o secretário de defesa James Mattis. Insistem, ainda, que Broidy não negociou com os seus contactos na Casa Branca para receber pagamentos de Angola ou para obter contratos. “Essa mensagem nunca foi transmitida”, garantem os advogados. Em maio de 2017, Lourenço assinou um memorando de entendimento com a Mattis para impulsionar a “cooperação de segurança” entre Angola e os Estados Unidos. “O ministro da Defesa angolano encontrou-se com Mattis sozinho, não tendo nada a ver com Elliott”, diz um advogado.

Em junho, Broidy ainda estava atrás dos angolanos para pagar os US $ 6 milhões. E em 22 de agosto de 2017, numa troca de e-mails com Broidy, Korbatov disse que estava a‘incomodar’ Asiru - uma referência, segundo fontes familiarizadas com este projeto, à cobrança do pagamento que o governo angolano devia a Broidy. "Ele está a espera da eleição [de Angola] terminar", informou Korbatov.

Reformulações do novo presidente e denúncias de nepotismo

Três meses depois, Broidy escreveu-lhe novamente, oferecendo-se para marcar uma visita de Joao Lourenço aos Estados Unidos e “possivelmente” uma reunião com Donald Trump ou o vice-presidente Mike Pence. "Eu sou capaz de avaliar e aconselhar sobre este assunto", ressaltou. Na época, Broidy ainda estava a procurar receber os US$ 6 milhões que o governo de Angola lhe devia.

Ao assumir o poder, o presidente João Manuel Lourenço tomou medidas para reformular a Sonangol, empresa petrolífera estatal de Angola. Ele nomeou Carlos Saturnino Guerra Sousa e Oliveira a presidente da empresa.

O Presidente João Manuel Lourenço está a ser acusado de nepotismo. O atual governador da província de Cabinda, Eugenio César Laborinho é um dos melhores amigos de Lourenço. Laborinho também é, através da empresa Kilate, sócio da família Lourenço num consórcio de mineração de ouro na província de Huila, a Sociedade de Metais Preciosos de Angola (SOMEPA). Frederico Manuel Santos e Silva Cardoso, novo ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, é primo da primeira dama, Ana Dias Lourenço.

O governador da província de Malanje, Norberto Fernandes dos Santos casado ​com a filha do Presidente da República. Pedro Luis da Fonseca, o novo ministro da Economia e do Planejamento, é amigo íntimo de Ana Dias Lourenço.  Ana Paula Sacramento Neto, a nova ministra da Juventude e Desportos, também faz parte da família: seu marido é primo direto do presidente eleito.

O jornalista angolano e secretário de Comunicação Institucional da Presidência da República de Angola, Luís Fernando, teria sido nomeado por indicação do dirigente sênior do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola, Mário António de Sequeira e Carvalho, amigo pessoal do presidente João Lourenço. Mentor de Luís Fernando, é também o padrinho do filho de João Lourenço e vice-versa.

Os juristas Marcy Cláudio Lopes e Itiandro Slovan de Salomão Simões foram nomeados, respectivamente secretários para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares do Presidente da República e secretário para os Assuntos Judiciais e Jurídicos.

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