Fonte: European Court of Auditors (ECA) |

Eliminar a violência contra as mulheres no mundo: principal programa da União Europeia tem pouco para mostrar

A iniciativa Spotlight, com 500 milhões de euros, é uma tentativa ambiciosa da Comissão Europeia, em colaboração com a Organização das Nações Unidas (ONU), para garantir que todas as mulheres e raparigas podem viver livres de violência e práticas que lhes fazem mal

O mundo não tem lugar para a violência contra as mulheres e as raparigas, e nenhuma delas deve ser abandonada à sua sorte

LUXEMBOURG, Luxembourg, 11 de setembro 2023/APO Group/ --

Quase um terço do financiamento da União Europeia para a iniciativa Spotlight – um total de 500 milhões de euros – foi para a gestão pela Organização das Nações Unidas; A iniciativa não conseguiu atrair mais fundos de novos doadores; O Tribunal de Contas Europeu pede que se use melhor as verbas e realça os riscos para a sustentabilidade das atividades.

A iniciativa Spotlight, com 500 milhões de euros, é uma tentativa ambiciosa da Comissão Europeia, em colaboração com a Organização das Nações Unidas (ONU), para garantir que todas as mulheres e raparigas podem viver livres de violência e práticas que lhes fazem mal. Porém, este importante programa da União Europeia (UE) para combater a violência sexual e baseada no género teve poucos efeitos até agora na melhoria da situação das pessoas que quer ajudar. Esta é a principal conclusão do novo relatório do Tribunal de Contas Europeu (TCE). Há alguns resultados positivos, mas o TCE conclui que a iniciativa pode ser mais bem gerida, conseguir mais com o dinheiro que gasta e aumentar o financiamento que chega aos destinatários, para ajudar mais mulheres e raparigas.

A iniciativa Spotlight é uma parceria estratégica mundial entre a UE e a ONU para eliminar todas as formas de violência contra as mulheres e as raparigas nos países participantes de África, Ásia, América Latina, Pacífico e Caraíbas. Lançada em 2017 com uma duração de quatro anos, foi prolongada até ao final de 2023 devido a atrasos.

"O mundo não tem lugar para a violência contra as mulheres e as raparigas, e nenhuma delas deve ser abandonada à sua sorte", afirma Bettina Jakobsen, Membro do TCE responsável pelo relatório. "Através da iniciativa Spotlight, a UE deu mais financiamento do que nunca para a eliminação destas práticas, mas é preciso que mais dinheiro chegue aos destinatários e que haja mais resultados para mostrar", acrescenta.

O TCE reconhece que a iniciativa chegou a mulheres e raparigas em todo o mundo e ajudou a combater este tipo de violência. Por exemplo, apoiou atividades de prevenção (tais como formação e campanhas de sensibilização) e os serviços às vítimas de violência em todos os países de África e da América Latina. Contudo, este apoio não foi igual em todo o lado e teve resultados variáveis. Além disso, a estrutura da iniciativa não permite avaliar bem o seu desempenho. Acrescente‑se que, devido à sua curta duração e aos dados incompletos, ainda não foi possível medir a melhoria da situação das pessoas a que a iniciativa se destina (por exemplo, vítimas de violência ou participantes em cursos de formação) e é complicado perceber até onde se chegou em termos dos resultados pretendidos. Não existem provas de que a violência contra as mulheres e as raparigas tenha diminuído nos países incluídos na iniciativa.

Houve fatores externos e internos que levaram a problemas e atrasos na execução. Incluem‑se não apenas a pandemia de COVID‑19, catástrofes naturais e mudanças políticas ao nível nacional, mas também mecanismos de governação complexos devido ao número de organizações da ONU envolvidas. A escolha das Nações Unidas como parceiro de execução pela Comissão Europeia foi uma decisão política para apoiar o multilateralismo. No entanto, os custos da ONU com a gestão da iniciativa foram de 155 milhões de dólares dos Estados Unidos (31% do orçamento total da iniciativa), deixando 351 milhões de dólares dos Estados Unidos para os parceiros de execução e destinatários. A Comissão Europeia sabia que a participação das Nações Unidas implicava custos mais elevados, mas não comparou bem as alternativas.

Apesar de todo o financiamento ser da UE, por vezes o facto não foi destacado o suficiente e a União não recebeu os devidos créditos. Além disso, a contribuição da UE devia funcionar como "semente" para atrair outros investidores, mas não surgiram novos doadores e, por isso, é possível que os resultados alcançados não se mantenham. O TCE critica ainda a curta duração do programa, que não é suficiente para conseguir uma mudança duradoura numa questão complexa que exige ações a longo prazo e mais recursos.

Distribuído pelo Grupo APO para European Court of Auditors (ECA).

Notas aos editores:
O objetivo do presente comunicado de imprensa é apresentar as principais mensagens do Relatório Especial adotado pelo Tribunal de Contas Europeu. O texto integral do documento está disponível em www.ECA.Europa.eu.

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Informações de contexto:
A iniciativa Spotlight baseia‑se na "Teoria da Mudança" e nos seus seis pilares, que apoiam: políticas e legislação; instituições; prevenção; serviços; dados; movimentos de mulheres. Esta estratégia é complementada pelo princípio de "não deixar ninguém para trás", que inclui medidas orientadas para as populações marginalizadas. A iniciativa recebe financiamento da UE no valor de 497 milhões de euros (250 milhões de euros só para África), dos quais 465 milhões de euros são geridos pela ONU em mais de 26 países de quatro continentes. Os restantes 32 milhões de euros são geridos pela União através de organizações da sociedade civil, enquanto outros doadores se comprometeram apenas com valores simbólicos. Estima‑se que uma em cada três mulheres tenha sido sujeita a violência física ou sexual pelo menos uma vez na sua vida desde os 15 anos de idade. Segundo dados da iniciativa, em alguns países a percentagem de pessoas que pensa ser justificável um homem bater na pessoa com quem vive baixou em 2021, mas, em alguns países da América Latina e de África, este valor até subiu. Na América Latina, nenhum dos programas apoiados registou uma diminuição do número de assassínios de mulheres ou raparigas devido ao seu sexo.

O Relatório Especial 21/2023 do TCE, Iniciativa Spotlight para eliminar a violência contra as mulheres e as raparigas – Ação ambiciosa, mas de impacto reduzido até ao momento, está disponível no seu sítio Web (ECA.Europa.eu).